quarta-feira, 21 de março de 2007

De regresso...

De volta a Lisboa, respiro o ar de que já tinha saudades. De repente vejo-me a regressar ao passado e relembro os lugares onde vivi.

Recordo a minha infância em Africa e escrevo isto a sorrir, pareço o pessoal que viveu nas ex-colónias no tempo da paz a falar. Pois eu também, com 29 anos em cima, digo que recordo da minha infância em Africa para ser mais concreta em Benguela.

Benguela tem um cheiro especial, tudo parece não ter pressa, a vida corre devagar. É uma cidade encantadora, sedutora, acolhedora.

Lembro-me de ter cinco anos, do jardim com grandes palmeiras em frente da minha casa, onde eu corria atrás dos passarinhos, tinha mesmo uma tara por passarinhos. De vez em quando conseguia apanhar um e lá feliz da vida levava-o para casa. Tomava conta dele. Dava-lhe de comer e dava-lhe banho. Enfim, acabava por matar o triste coitado com as regras que me eram impostas. “Eu também tenho de comer, mesmo quando não quero e tenho de tomar banho”. Explicava a chorar ao meu pai, quando este me dizia que não podia dar banho aos pássaros pois morriam e que não os devia trazer para casa. O lugar deles era na rua onde podiam ser livres, o meu também pensava eu.
Lembro-me do meu pai ir deixar-me à escola. Vestia o meu uniforme, calções azul anil e camisola azul-bebé, levava o meu banquinho. Na minha escola, não havia carteiras, cada um levava o seu banquinho. Onde se sentava e com o caderno no colo, lá fazíamos as nossas primeiras letras.
Como morava a duas ruas dali, bastava eu ter a certeza que o meu pai já estava longe, para aproveitar a primeira oportunidade de fugir. Não é que eu não gostasse da escola, mas brincar na rua era muito melhor.
Lembro-me quando esta liberdade acabou. A empregada de casa decidiu acabar com a minha anarquia e contou ao meu pai, a baldas que a filha era. Não me lembro do raspanete, essa é das coisas boas, esqueci-me da maior parte deles.
Há poucos anos voltei a Benguela e umas das visitas que fiz, foi à minha professora da pré - primária, obviamente obrigada pelo meu pai. A senhora só sabia que eu era filha dele, mas não se lembrava das minhas peripécias. O meu pai fez o favor de as recordar.
“Não se lembra dela fugir da escola e eu ter de vigia-la do outro lado da rua”, “Não me lembro, mas a rapariga parece tão boazinha” E eu a sorrir com ar de anjo não fosse ela dar-me umas reguadas. “ Pois, parece”- dizia o meu pai.

Do dia de parti de Benguela não me recordo. Deve ter sido um dia normal sem me aperceber da grande viragem, que a partida traria a minha vida. No coração guardei os pássaros, no sangue a música, nos pés a dança africana.

3 comentários:

  1. Gostei muito de ler-te Amiga. Este regresso ao Passado comoveu-me... África será sempre um Lugar Diferente.

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  2. o nosso passado, as nossas raízes... fazem parte do nosso presente e sem dúvida repercutem-se no nosso futuro. Foram esses lugares que te tornaram na pessoa que és hoje: d Benguela trouxeste designadamente o sorriso e o jeito pa kizomba lol (não te esqueças que tens de dar aí 1s toques para o pessoal apanhar a onda), da Madeira a beleza ea simplicidade, de lisboa.... bem isso agora! aqui em lisboa tudo é possível é 1cidade cosmopolita...tudo pode acontecer (como no Big brother lol)
    Sei k pode parecer egísta e tal, mas ainda bem que deixaste o calor de África e vieste para o clima ameno da Madeira; a pérola d Atlântico ou melhor eu, e não só, ficamos a ganhar com isso.
    «um dia normal sem me aperceber da grande viragem» pois cálculo que tenha sido, mas a vida é feita de mudanças que nos fazem crescer e que grande mulher és hoje.
    «De regresso...» á PDL e mais não digo....

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  3. Benguela, terra do grande Rui Jordao... Eh daquelas coisas a que nao me posso negar num futuro melhor e mais estavel (monetariamente): conhecer Africa.

    Este voo tah a fazer uma escala bem longa. Espero que o clima nao esteja mau.

    Bjoz

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