quinta-feira, 29 de março de 2007

Tentação senhora do meu prazer

Contou me uma amiga sobre o facto, de alguém que ela gosta muito ter-lhe feito uma surpresa no trabalho. Deu lá um saltinho só para lhe dizer que tinha saudades dela, que sentia a sua falta. Esta pessoa é mais que um amigo, é o tal, mas por razões, que só a vida sabe complicar, tanto ela como o tal vão ter de esperar.
E porque vós estou a contar isto, por uma simples razão, quando ela estava a contar a situação, comecei a pensar em como a tentação é lixada.

Amigos a tentação têm um gosto muito bom! Eu não vós estou a dizer nada de novo.

Mas a tentação é lixada. Ela surge na maior parte das vezes de surpresa. Como um felino, fica a espreita. E ataca sem dó nem piedade.
Quando estamos fortes, conseguimos resisti-la ou saboreá-la, como costumamos dizer, com os pés bem assentes na terra. Ou até se for preciso nem damos por ela.
Mas, e este mas, é o da questão. Quando sentimos falta de algo e aqui estou a falar principalmente de alimento para o coração e consequentemente algo mais carnal. A tentação delicia-nos com o prato principal do nosso desejo.
Estão a ver os restaurantes japoneses com a passadeira da comida. Isso mesmo. Imaginem nós os tentados bem sentados, a sermos tentados não por comida, mas sim pelo fruto da nossa tentação e este vai passando alternadamente como se fosse um prato japonês. Ai que eu como, ai que lhe ponho a mão, ai que não aguento! Anda cá.

Frente a tentação podemos agir como freiras ou monges literalmente. Cegos, surdos, insensíveis. Ou então podemos saboreá-la, como se a gula fosse o pecado mais doce.

Quantas vezes ficamos a olhar para o telefone, a espera que por magia ele toque e do outro lado esteja o que desejamos. Ou então como zombies ficamos a espera que os números juntem-se como por magia a chamar aquela pessoa, que não é a que podemos ter, mas que ao ouvir a sua voz sentimos no céu. Acordamos e percebemos que isso da magia não acontece. E ai carregamos avidamente nas teclas finalmente decididos e tchan tchan. Uma voz, um convite…

Quantas vezes, fugimos a mais um beijo, quando já houve tantos, só por que existe um amanhã.

Quantas vezes cedemos a tentação, por só nesse lugar proibido nós sentimos felizes.

Gosto da tentação:

Gosto de olhar para o que não devo. E dar essa alegria aos meus olhos.

Gosto de beijar a quem quero, mesmo sabendo que não devo.

Gosto de sentir a quem desejo, mesmo sabendo que mais tarde vou chorar pela sua falta.

Gosto de ceder a tentação, faz me sentir viva, faz me sentir desejada, faz me sentir feliz.

Gosto de provocar a tentação, com o olhar, com o sorriso ou com aqueles tiques que só o outro conhece na intimidade.

Gosto ou gostamos todos. Falo por mim, mas posso bem por a mão no fogo por alguns de vocês.


Quanto a minha amiga sei que ele é a sua tentação. Sei que por ele, ela mudaria o mundo. Sei que por ele, ela renunciaria a um princípio. Mas sei que por isso mesmo, ela seria mais feliz.

Quanto a mim podem começar a pegar no telefone e tentarem-me. Quem apostar no champanhe e morangos já tem meio caminho ganho.

quarta-feira, 21 de março de 2007

De regresso...

De volta a Lisboa, respiro o ar de que já tinha saudades. De repente vejo-me a regressar ao passado e relembro os lugares onde vivi.

Recordo a minha infância em Africa e escrevo isto a sorrir, pareço o pessoal que viveu nas ex-colónias no tempo da paz a falar. Pois eu também, com 29 anos em cima, digo que recordo da minha infância em Africa para ser mais concreta em Benguela.

Benguela tem um cheiro especial, tudo parece não ter pressa, a vida corre devagar. É uma cidade encantadora, sedutora, acolhedora.

Lembro-me de ter cinco anos, do jardim com grandes palmeiras em frente da minha casa, onde eu corria atrás dos passarinhos, tinha mesmo uma tara por passarinhos. De vez em quando conseguia apanhar um e lá feliz da vida levava-o para casa. Tomava conta dele. Dava-lhe de comer e dava-lhe banho. Enfim, acabava por matar o triste coitado com as regras que me eram impostas. “Eu também tenho de comer, mesmo quando não quero e tenho de tomar banho”. Explicava a chorar ao meu pai, quando este me dizia que não podia dar banho aos pássaros pois morriam e que não os devia trazer para casa. O lugar deles era na rua onde podiam ser livres, o meu também pensava eu.
Lembro-me do meu pai ir deixar-me à escola. Vestia o meu uniforme, calções azul anil e camisola azul-bebé, levava o meu banquinho. Na minha escola, não havia carteiras, cada um levava o seu banquinho. Onde se sentava e com o caderno no colo, lá fazíamos as nossas primeiras letras.
Como morava a duas ruas dali, bastava eu ter a certeza que o meu pai já estava longe, para aproveitar a primeira oportunidade de fugir. Não é que eu não gostasse da escola, mas brincar na rua era muito melhor.
Lembro-me quando esta liberdade acabou. A empregada de casa decidiu acabar com a minha anarquia e contou ao meu pai, a baldas que a filha era. Não me lembro do raspanete, essa é das coisas boas, esqueci-me da maior parte deles.
Há poucos anos voltei a Benguela e umas das visitas que fiz, foi à minha professora da pré - primária, obviamente obrigada pelo meu pai. A senhora só sabia que eu era filha dele, mas não se lembrava das minhas peripécias. O meu pai fez o favor de as recordar.
“Não se lembra dela fugir da escola e eu ter de vigia-la do outro lado da rua”, “Não me lembro, mas a rapariga parece tão boazinha” E eu a sorrir com ar de anjo não fosse ela dar-me umas reguadas. “ Pois, parece”- dizia o meu pai.

Do dia de parti de Benguela não me recordo. Deve ter sido um dia normal sem me aperceber da grande viragem, que a partida traria a minha vida. No coração guardei os pássaros, no sangue a música, nos pés a dança africana.

terça-feira, 6 de março de 2007

Conhaque e Serra Nevada.

Parto hoje para Serra Nevada, vou em trabalho. Já vejo os sorrisos na cara, a pensarem és sempre o mesmo, dizes sempre isso, que é trabalho. Mas vais andar lá a passear e tal.

Pois é verdade vou andar lá passear com horas marcadas para tudo. É trabalho mesmo, tenho horas para me levantar, comer, trabalhar, divertir e dormir. A diferença é que é na Serra Nevada.

Vou com um grupo de colegas da mesma profissão, pessoas que na maior parte delas nunca vi, e com as quais vou ter de acordar, comer, trabalhar, divertir e até dormir. Á pois é, dormir. Antes de fazer a viagem, peço sempre a sorte, para que quem compartilhe o quarto comigo poupe-me destas cenas:

1º Não ressone
2º Não cheire mal
3º Não seja louco (literalmente)

Parece mal, eu dizer isto mais é importante, se ressonar não vou conseguir dormir, se cheirar mal não vou conseguir respirar, se for louco, bom ai já tenho estratégia, “para um louco, louco e meio”. Á pois é!

Do programa da viagem faz obviamente parte a pratica de Ski. Amigos, eu nunca esquiei, mas já estou preparada, informei-me sobre o Manual de Principiante de Ski.

1º Equipar-se como um boneco da Michellin e quanto mais colorido for o fato melhor. Em caso de avalanche pode ser que dê nas vistas.

2º Preparar a traseira do fato com uma almofada. Vai ter muita utilidade.

3º Calçar os Skis numa zona plana. Essencialíssimo.

4º Preparar-se para iniciar a pratica facílima que é Esquiar e começamos assim: Ski bunda, Ski quase que parti a carola, Ski ai que partia um braço, Ski quase que saltaram os dentes, Ski que me parto todo.

5 º Ao final do 5º dia está lá, todo partido, dorido, mas já anda 2 metros sem cair.

Eu por mim, fazia esta viagem doutra forma. Eu num bungalow daqueles feitos de madeira, sentada a beira da lareira, um bom copo de vinho madeira, a ver a neve lá fora e muito bem acompanhada. É só o que eu me lembro quando penso em neve. E vocês?

Mas como diz o ditado. Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque. Até a volta.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Bem vindos a Paris

Já tinha passado algum tempo desde a última vez que ela o vira, parecia mais alto, estava moreno e principalmente feliz.
Encontravam-se no terminal das malas, mas ela estranhara o facto de ainda não o ter visto, o mas certo era terem vindo no mesmo voo.
Ele aproximava-se para a cumprimentar, olhava-a nos olhos como a dizer não me fujas. Ela sentia o coração a bater cada vez mais rápido, e as malas que não chegavam. Sentia-o cada vez mais perto, o telemóvel toca, que sorte pensa ela, ganhou mais uns instantes.
Mas ele não se atrapalha, avança devagar como que a sonda-la, aproxima-se dela e beija-lhe a face. Ela afasta-se e faz-lhe sinal que está ao telemóvel.
Ele entende, mas não se detém, aproveita este momento vulnerável dela e abraça-a. Ouve-a a gaguejar, fala de uma reunião, diz que chegou bem.
A voz dela, que saudades da voz dela. Ele encosta a face ao seu pescoço, sente o seu perfume é o mesmo de sempre. Afinal como ela sempre dizia, era fiel ao seu perfume, e como ele adorava isso nela. Já por varias vezes esse aroma o enganara. Pensava estar na presença dela sempre que o sentia.
Já estava com o pensamento no passado, quando sentiu ela afastar-se.
Olhou para ele nos olhos, sorriu. Soltou um frio: - Olá tudo bem. Ao qual ele respondeu, que sim. Ficaram em silêncio, ele sorria, ela desvia o olhar para a passadeira, que entretanto já começara a distribuir as malas.
Ele admira-a tanto, tinha um fascínio por este lado frio dela, super controlada. Sabia sempre o que dizer, ela deixava-o inseguro, desesperado, sem chão, mas ao mesmo tempo, fazia-o sentir bem, dono do mundo. Para isso bastava olha-lo sem aquela dureza toda. E era isso que esperava agora, que essa dureza desaparecesse num olhar meigo, num sorriso sentido.

Ela corta o silêncio, perguntando o que fazia ele em Paris naquela altura do ano. Ele sorri, e diz-lhe que vinha a procura dela. Ela finalmente sorri de verdade, as pequenas graças dele sempre a fizeram sorrir. Volta-se para ele:
- Não mudaste nada!
- É verdade, tento não mudar, quero continuar o mesmo por quem te apaixonaste.
- Como é possível, que toda a vez que nós encontramos, tocas nesse assunto. Já se passaram anos.
- Do mesmo modo que ainda é possível eu querer-te.
- Deixa-te disso, tenho de ir, a minha mala já chegou.
- Vai, não te prendo mais, mas ao menos dá-me um beijo. Diz que estás contente por me ver.
- Para de pedinchar eu não te pertenço.
- Ainda não!
Ela agarra a mala com toda a rapidez que pode, volta-se para ele e sorri, detesta quando ele tem razão. Corada começa andar no sentido das portas de saída.
- Até logo. Diz ele a sorrir