quarta-feira, 28 de novembro de 2007

As montanhas de silicone

- Acredita em mim, eu já os vi juntos mais que uma vez. Não chores ou melhor chora. Deita tudo cá para fora.
- Mas porquê? Viste a gaja toda vermelha. Deve ter sido cá uma coisa. Mas porquê? Logo ela.
- Oh eu sei lá porquê! É a vida Ana, é a vida.
- Eu fiz tudo por ele.
- Talvez não o suficiente.
- Que queres dizer?
- Sei lá. Quem sou eu para te dizer seja o que for. Talvez pensasses que ele era perfeito. Ele nunca foi, nem será perfeito. Nem tu, nem eu.
- Filosofia! Tens sempre essas frases para dizer.
- Estou a melhorar, olha a minha veia de psicoterapeuta. Ana, já chega, anda para frente, para o lado, para onde tu quiseres, mas sai desta casa de banho que há mais pessoal que precisa dela.
- Porquê, mas porquê eu.
- Porque és linda, inteligente, forte e tu mais que ninguém consegues ultrapassar isto. Deixa-me limpar a tua cara. Credo, estás mesmo feia, não gosto quando choras maquilhada.
- Achas que foram para a cama mais vezes?
- Não sei.
- Sabes sim. Tu sabes, tu topas essas cenas á milhas.
- Bem cama, cama não sei, mas no outro dia saíram da garagem juntos.
- Aquela filha da p…
- E ele é o que?
- Ele é …ele vai ter das boas. Vou sair daqui, direitinha aquele nariz e partir-lho.
- Eu se fosse a ti não fazia isso.
- Tens razão, uma joelhada no abono é mais justo.
- Olha e vais descalça?

Ana sai disparada em direcção ao João, dá-lhe uma joelhada e na volta atira-se a Barbara e aperta-lhe as mamas de silicone.
- Seus c… de m…, agora vão f… para o inferno. Anda uma mulher a tentar ser uma senhora. E estes c…de m…, a darem me cabo da vida.
- Ana tem calma. Vamos embora.
- Deixa-me Sara, deixa-me que eu vou-me a eles.
- Amiga vamos, já fizeste escândalo suficiente.
- Fiz, não fiz, e eu sou uma senhora.
- Pois és, se bem que uma senhora também perde a cabeça e neste caso tens razão.

Arrastei-a para fora do restaurante. E fiz sinal para nós deixarem sós.
- Eu apertei as mamas dela.
- Eu sei, que cena marada.
- Sempre me fizeram confusão, sempre apontadas para o céu.
- Estás melhor?
- Sim bem melhor.
- Calça-te. Ganda maluca apertaste as mamas dela, de onde foste buscar essa.
- Não sei, mas parece-me que ninguém vai esquecer esta festa.
- Ai não vão mesmo. Foi o vosso aniversário de casamento mais divertido. Desculpa!
- Não te desculpes, eu achei o máximo e amanhã atiro com as roupas dele pela janela. Queres ir tomar chá para assistires.
- Amiga, não perco essa.
- Obrigada.
- Sempre as ordens.

Ficamos sentadas a ver o pôr-do-sol no guincho. A Ana soltava um suspiro de vez enquando. Parecia calma e quase que ia jurar que aliviada.
- É a vida Ana, é a vida.
- Filosofia! Tens sempre essas frases para dizer.
- É a vida.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Rebuçado de morango

As nossas escolhas são como os rebuçados de vários sabores. Se metes mais que um na boca obténs uma mescla, podes acabar por obter uma mescla boa ou então mer.. . Se escolhes comer um de cada vez, os sabores vão variando uns mais doces, outros mais amargos.
As escolhas são assim doces e amargas.
Eu admiro as pessoas que admitem e levam a cabo e se aguentam a bronca nas suas escolhas. Eu escolhi ser assim, posso demorar a escolher, mas depois de decidir saiam da frente, seja elo sim ou pelo não.
Com o passar dos anos aprendi a não adiar, quem adia só perde. A sério! Adiar o fim, só adia o princípio. E custa-me quando olho para trás e percebo que o fiz algumas vezes, e ainda assim contam, contam o suficiente para ter medo e não demorar a escolher.
Falo de relações, de trabalhos, de palavras, de tardes, de noites, de sonhos, de momentos que adiei, por não me decidir a escolher e quando o fiz ou seja se me decidi pelo sim, já não teve aquele gosto, porque enfim, a angústia da indecisão tirou a graça a coisa.
Se escolho o não, decido que vou ter de viver com essa decisão. Escolher o não é lixado. O sim pelo menos, podemos arrependermo-nos porque fizemos, aproveitamos, estragamos, rasgamos, e por ai fora. O não, é o ficar naquela poderia ter feito e não fiz, portanto a dúvida acaba por reinar. Um reinado curto na minha vida, isto porque há alguns anos atrás alguém me disse, “quando algo me pressiona, livro-me logo do que me esta a pressionar seja o que for é que nem dou tempo para deixar que isso me mine, se me pressiona é porque me está a fazer mal”. Assim é a dúvida em mim, não dura muito, paro por uns minutos avalio e escolho. Ou vai ou racha, seja o que Deus quiser e todos os santos.
Mas há aquelas situações em que a escolha é danada, sabemos que vamos nós arrepender logo, mas a tentação não nós deixa pensar e saltamos literalmente para o colo, para a cama, para a mesa, enfim somos humanos. E depois desses momentos esfregamos uma mão na outra e dizemos para dentro “que se lixe, já esta”. Errar é humano e o querer também.
As escolhas que fazemos na vida são o resultado da ginástica que fazemos entre o queremos, o que os outros esperam de nós e a nossa consciência. Eu fico-me primeiro pela minha consciência, depois pelo que quero e por fim pelo que os outros esperam de mim.
É claro que não é assim tão fácil de gerir, mas é uma das vantagens de andar por cá já alguns anos, saber que independentemente das minhas escolhas, na hora de dormir é bom que não me pese a consciência. É bom que reveja o meu dia e acredite mesmo que dei o meu melhor. O meu melhor para ser e fazer feliz.

Escolhi um rebuçado de morango. E tu?