sábado, 31 de janeiro de 2009

Compasso do coração.

Corre pelos campos veloz como o vento, tem a pele morena e um sorriso inocente. Descalço, pisa um espinho de uma planta maldosa, mas nem suspira continua em frente. Ele tem uma missão. Agora pisa areia e continua a correr, oiço o bater do seu coração, parece um tambor enlouquecido, sinto o seu perfume, é um aroma envolvente. Não consigo soltar os meus olhos dele e a minha curiosidade aumenta. Sigo-o sem saber porque, mas a sua agilidade, a sua vontade de chegar algum lado, faz-me querer ir junto. Corro atrás sem causar alarido, não quero que me sinta demasiado perto, quero que siga o seu caminho sem distracções, quero saber para onde vai, o que vai encontrar e mais...
Começo a correr mais depressa e de repente o meu coração grita, estou a esforçá-lo ao máximo, mas tem de ser. O meu coração é um tambor, já são dois.
Travo ao ver que ele parou de correr, porque terá parado de correr, volta-se para trás e fita-me nos olhos. Eu entretanto parei a uma certa distância, ele sorri e desata a correr de novo. Terá me desafiado ou terá apenas dado conta da minha presença. Não sei, mas vou atrás dele.
Agora é que são elas, vai a subir uma montanha, hesito, olho para trás a procura de um motivo para parar, não encontro. Vou subir também, já estou por tudo, quero chegar lá, aonde ele vai. Caramba que ágil que ele é, chego a desejar voltar a ter o meu corpo atlético, ai as horas de treino que faltei. Deixo-me de lamúrias e recorro a minha força física e psicológica para conseguir. Eu sou forte.
Afinal era isso, a sorrir-me como que a preparar-me para este martírio, nem olho para baixo, sou capaz de desmaiar só com a altura que já atingi. Bolas, ele já atingiu o topo, falta-me pouco, mas já me doí o corpo todo, é exercício de um mês num dia. Chego ao topo e ele já era, é que já era mesmo, desapareceu. Que sensação estranha, olho em volta e não o vejo. Sinto um misto de tristeza e desilusão. Cansada deito-me no chão, sinto o cheio da terra, das ervas, começa a chuviscar, não tenho onde me abrigar. O meu coração ainda lateja de tanta excitação. Respiro fundo vou acalmá-lo. Fecho os olhos tendo como última visão o pôr-do-sol e as poucos adormeço.
Sinto um perfume, eu conheço este aroma, é o dele. Sinto-o ajoelhar-se e a beijar-me a face, afagar-me a mão e eu não consigo mover-me, estarei a dormir, estarei dormente, não sei, mas não me parece que esteja bem. Desato a chorar mas as lágrimas não surgem, é um chorar seco, frágil. Sinto um leve perfume a rosas, a orquídeas, a lírios, mas de onde surgem estes perfumes, não consigo abrir os olhos e estou a desesperar, não consigo chorar, abrir os olhos, mexer-me, falar. Beija-me os lábios demoradamente, sinto perfeitamente o toque dos seus lábios, primeiro frescos depois amorosamente quentes. Conheço esses lábios, são um lugar comum, mas não consigo corresponder, estou presa. Passa as suas mãos pelo meu rosto, desvia os fios do meu cabelo. Oiço um choro, não é o meu, é dele. Um choro aveludado, suave, mas verdadeiramente triste. Encosta a sua face molhada de lágrimas a minha face. Molha-me o rosto, são também minhas aquelas lágrimas. Sussurra, não desistas, não largues a minha mão. Mas eu não consigo mexer-me eu não consigo fazer nada e ele ali fica a meu lado sussurrando vezes sem conta... Fez-me correr por vales, pisar areia, subir montanhas e agora aqui inerte estou eu sem poder dizer, eu sinto-te, eu sei.

Cris; cá esta o prometido, mas a minha maneira, lamento não sei escrever de outra forma.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A vida acontece.

Passam os anos e crescemos, para os lados, para cima, fisicamente mudamos. Passam-se os anos e envelhecemos, não conheço ninguém que tenha ficado mais novo, a não ser na ficção, mas isso não conta.


Passam os anos ganhamos e perdemos, medo, coragem, compaixão, humildade, fé, calos, frustrações, dúvidas, certezas, amor, ódio… enfim um verdadeiro circo. Ninguém escapa a este show de emoções.


Passam os anos e a única coisa que eu sei é que estamos sempre aprender, é que é até morrer. E mais, se estamos sempre aprender não existem burros. (Gosto desta ideia de não existirem burros, chega a ser irónico). Podem existir ignorantes, mas gente burra não existe. Sabem sempre alguma coisa, mesmo que seja uma burridade como dizem os madeirenses.


Passam os anos e poucas são as vezes que acordamos para a realidade de que nada dura para sempre, que tudo tem o seu brilho, tudo tem o seu lado obscuro, que há um ciclo para tudo. O ciclo não pára, pode saltar por cima, pode esquivar-se, mas há de lá chegar onde tem de chegar.


Passam se os anos e o valor que damos as coisas as vezes só têm significado para nós.


Que muitas vezes estamos mesmo sós. E que as vezes só podemos contar com o nosso próprio umbigo. Parece mau, mas não é, é mesmo assim, nós e só nós, connosco mesmo, quando nos interrogamos, quando queremos respostas as nossas dúvidas, as nossas fraquezas, aos nossos desgostos. Sozinhos.


Passam se os anos e a vida.


Passam os anos, e ainda assim somos capazes de reagir como crianças mimadas, quando a vida não nos corre de feição. Choramos porque não merecemos isto e aquilo, gritamos de raiva quando somos contrariados e de joelhos rendidos pedimos que alguém nos socorra. Falta de mimo, muito mimo, nada disso é apenas o chicote da vida,que deixa a sua marca, e quando ele cai no mesmo sitio, cria feridas profundas daquelas que mesmo cicatrizadas mostram a falta de dó desse chicote.


A vida passa, os dias, os anos e continuamos a crer que o que é nosso vai vir ter connosco, se calhar até vem, feito raio e cai direitinho na nossa cabeça, destrói tudo à volta e vai embora. Se calhar temos de deixar andar e deixar a vida seguir o seu curso. Ninguém me consegue dar a resposta, será que devemos deixar a vida seguir o seu curso ou ir a busca? Quem vos escreve não sabe a resposta, teremos de descobrir sozinhos se a vida deixar.


Estou a abrir as asas de regresso ao ninho. Aproximam-se dias de paz…um beijo com sabor a manga.