terça-feira, 21 de julho de 2009

Viaja-me


Eu viajante, que sacudo dos pés a poeira que trago de outras terras, de outros tempos.
Eu que a teu lado estive numa praia, num dia de sol em Copacabana. Eu uma estranha a quem deste a mão e travaste o meu corpo num tango em Buenos Aires. Eu que atravessei o Champ Elysees, para sentir o teu perfume ao ver-te passar do outro lado.
Que de uma gôndola te disse adeus, por entre as ruas aguadas de Veneza. Eu que te atirei um beijo por entre as cerejeiras em flor num Japão distante.
Eu que roubei a palhinha do teu coco, em plena Riviera Maya. Eu que senti o sol crepitante a uns metros das pirâmides. Eu que nadei a teu lado nos lagos gelados da Patagónia. Em Campos de Jordão te atirei neve. E me vesti de flores em plena noite de lua cheia numa praia no Hawai.
Eu que desci sem fé o kilimanjaro, eu que olhei para ti do cimo do Burj Al Rab. Caí de uma cascata numa verdejante Nova Zelândia. Eu que lancei um boomerang para lá da Uluru.
Que de joelhos no deserto Sahara ouvi o silêncio da vida. Em Las Vegas, inebriada por com um copo de rum com gelo, casei contigo dentro de um Cadillac azul navy.
Que contigo rezei num ashram, cada um ao seu Deus. Que saboreei o chá de menta numa tenda perdida a sul de Hammamet.
Tu que partilhaste um charuto, numa Havana vestida de nova durante a noite. Eu que te deixei ver massajarem-me o corpo, num quartinho de uma Tailândia perfeita.
Eu que te pisquei o olho numa das ruas vermelhas de Amesterdão. Tomei o nosso café encostada a uma esquina na Quinta Avenida.
Aconcheguei–te em peles numa cama de gelo, na Islândia. Que te dei a provar o manjar dos deuses em Koh Samui.
Eu viajante, que sacudo dos pés a poeira que trago de outras terras, de outros tempos. Eu que me rendo aos teus encantos, vida após vida, alma após alma. Declaro que foste a mais curta viagem, mas a mais bela delas todas.

Eu que dos teus lábios atravessei o teu queixo, para te beijar o pescoço, eu que escorreguei para te sussurrar ao ouvido, eu que percorri com fome o teu peito e deslizei pelo teu corpo. Que dos teus olhos perdi-me, que das tuas mãos quis que me deixasses marcas de passagem como num mapa.

Eu que descobri caminhos em ti suspiro e digo que foste a mais curta viagem, mas a mais bela delas todas.

2 comentários:

  1. Não precisamos de grandes viagens para descobrir os melhores caminhos.
    Há viagens tão curtas e com percursos tão lindos.
    Olha o teu voo, dás-nos viagens curtas de primeira classe e no final todos chegámos a um percurso, ao da sabedoria.

    Beijinho

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  2. As melhores viagens, aos maiores viagens, nem precisa ser de primeira classe. Pode ser num carrinho sem ar-condicionado, mas partilhando a paisagem, trocando olhares, mão na mão.
    Espelho, espelho, espelho.

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