terça-feira, 18 de setembro de 2007

José Afonso

Quinta-feira a noite, vou para a “borga” dançar e conviver com bons amigos. Acabada a noite e a despedida do pessoal, encaminho-me para o meu carro. Abro a porta, entro e ligo o carro. Olho para o vidro e vejo uns papéis. Só pelo facto de não querer ter o azar de chover e estes se colarem ao vidro resolvi sair e retira-los. Não gosto de deitar papéis no chão, atiro-os para o banco do lado e lá vou eu.
Ao chegar à casa, olho para os papéis e percebo que não é mais um dos muitos bilhetinhos com números de telefones ou mensagens, mas sim uns bilhetes de uma estreia. Reparo na data e já passou, reviro os bilhetes e encontro um nome. O nome do dono dos bilhetes e mais nada, nem uma mensagem, nem um número. Só informação cultural.
Estranho penso eu. E mais estranho é alguém decidir fazer do meu carro seu caixote do lixo. Enfim decidi não pensar nisso, mas deixei os bilhetes em cima da mesa.

Sexta-feira depois das lides profissionais, fiquei com a tarde livre. Vou para a baixa de Lisboa. Adoro a baixa, Lisboa vive-se ali. Nas ruelas, nos passeios, nas praças, nas Igrejas escondidas, nos botecos. Nos turistas de rua, nas Marias, nas Madalenas, nos Zés, nos Quins e em mim. Faço o roteiro do costume e dirijo-me para Belém. Passeio pelos jardins, vou beijar o rio e cruzo o olhar com o Centro Cultural de Belém. Este pisca-me o olho, já lhe devo uma visita há algum tempo.

Entro na recepção e pergunto pelo Museu da Colecção Berardo. Pergunto se a entrada é paga, respondem que não. E eu sorrio e mando cumprimentos ao “tio” Joe.

E agora podia armar-me aqui em intelectual e tal, que entendo muito de arte e tal. Mas não, fui realizar um desejo, adoro o surrealismo e ali estão, não as melhores obras, apenas algumas representativas.
A meu ver Dali é o Tal e dele apenas uma obra e nem era um quadro. De resto o Surrealismo é assim mesmo uma linha, um objecto deformado, uma névoa e o seu significado passa a ter outra dimensão. É muito interessante ver o que para um, é definido como uma tarde solarenga e no mundo real ou não, é apenas um peixe num prato.
Adorei a exposição, fiquei espantada pela sua organização, pelas obras apresentadas e pela sua “ magia”. Surrealismo “rules”.
Retirei-me do Museu um pouco mais rica. O tio Joe pagou o bilhete e afinal de contas a arte é de todos, logo aquele quadro de Picasso também é meu.

De saída encaro com uma placa onde apresentam a primeira apresentação pública de uma nova orquestra, a Orquestra de Câmara Portuguesa, fundada e dirigida por Pedro Carneiro. Fez se luz, os bilhetes deixados no meu carro eram os da estreia. Já usados obviamente.

Fiquei a pensar, se teriam sido os bilhetes a levarem-me ali. Que estes tivessem influenciado a minha tarde. Afinal com tanto sítio para passar a tarde, dou por mim no CCB, a ver uma exposição sobre o surrealismo, quando podia estar assistir uma sessão de treinos do Sporting. Enfim uma situação digna deste movimento. Decidi ir comer pastéis de Belém.

Querem mais surreal que isto: uma tarde em Lisboa, uma exposição surreal, uns bilhetes usados e pastéis de nata. Misturem tudo e "voilá". Não temos artista mas temos concerteza mote para um bom quadro servido a moda de Dali ou Cesariny.


P.S. – E já agora obrigada José Afonso, queira por favor deixar para a próxima bilhetes válidos. E dois.

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