quarta-feira, 11 de abril de 2007

É uma trama de vida

03h00 – Olho novamente para o relógio. Que tortura. Fecho os olhos.
03h30 – Devia dormir. Assim vou chegar com uma cara de meter medo ao susto.
04h45 – Falta pouco, mas ainda dá para descansar uns minutos. Fecho os olhos novamente.
05h15 – Tenho tudo arrumado não falta nada, mas sinto que falta tudo. O alarme não tarda nada esta a tocar.
05h29 – Que vida a minha, falta um minuto. É melhor pular da cama.
05h35 – Tomo banho, deixo a água escorrer pelo corpo, e peço que me lave a alma, mas isso demoraria muito tempo, e também muito gel. Deixo-me de tretas e saio do chuveiro.
06h10 – Tenho um voo a minha espera, não posso dormir em pé, tenho de ir. Odeio esta viagem até ao aeroporto. Quantas mais vezes a faço, mais me custa. Estou-me a torturar, tenho de tirar estes pensamentos da minha mente.
07h00 – Tanta gente, este check-in esta apinhado. Posso sempre desistir. Posso sempre voltar para trás. Mas seria cobarde e isso não sou, pelo menos nem vontade para o ser tenho.
07h30 – Olho para as escadas da sala de embarque, tenho de subir. Apresento o BI ao guarda de serviço. Ele olha e sorri, deseja-me boa viagem. Queria antes que ele dissesse “Volta para casa pá, o que é que vais para lá fazer”. Mas não, sinaliza com mão para onde devo seguir. Tão simpático, penso eu. Mas nem a sua simpatia me vai fazer sorrir.
08h00 – Estou dentro do avião, olho para fora, vejo o mar, vejo gente na varanda do aeroporto. Uns choram, outros sorriem. A mim não me apetece sorrir, e chorar seria compreensível, mas mesmo assim embaraçoso.
09h25 – Desembarco em Lisboa. Voltei, coloco o resto da armadura, o combate está a minha espera, na saída das partidas. Respiro fundo e abro os olhos.


Ontem apertei o relógio para ter tempo para todos. Telefonei a quem pude, despedi-me pelo telefone, estive com aqueles que consegui.
Chorei sem lágrimas, pelo momento que vivo. Estou insatisfeita, o ombro amigo ouviu-me e deixo-me falar, não me disse que estava certa nem errada, deixou-me chorar sem lágrimas.
Odeio chorar sem lágrimas, é mais difícil. É saber que, quer chore ou não, o que falta fazer continua por fazer. Esta ali a olhar para mim, como se eu fosse uma criança birrenta. - Ná, ná nana, olha o bebé a chorar! Goza-me o medo com sua irmã a frustração.
Olho para o copo, olho para a noite, olho para quem esta a meu lado e penso que mais posso pedir. Não, não chega, só viver de momentos não chega. Esta na altura de fazer escolhas, de vestir a armadura já gasta de outras batalhas e lutar.
Ergo o corpo, e cumpro o meu destino. Peço que a estrada não acabe, enquanto está durar, o tempo vai ter de se conter.
Chego e despeço-me do luar. Mas porquê, que nas despedidas, normalmente o dia esta radioso ou a noite está deslumbrante. Dava jeito que chovesse era mais dramático, mas teatral.
Vou me deitar e choro novamente sem lágrimas, estou de novo a partir. Deixo para trás a promessa de uma vida que não vivo, mas que me parece ser sempre melhor. É aquele recanto que eu sei, que aconteça o que acontecer, será bom voltar.
Fico dividida entre a razão e o coração. Penso no meu trajecto de vida e questiono-me se é assim que quero estar. Viver com um pé de cada lado da linha. Exausta adormeço.

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