Saio a noite, vesti-me como se fosse para uma festa. A vida é uma festa. Porque não celebra-la, penso eu.
Saio do carro, dou uma volta, miro o vestido que trago. Que delicia, sabe mesmo bem esta seda no corpo. Esta cá um calor, mas não faz mal, até sabe bem, o perfume fica mais intenso.
Chego e cumprimento o pessoal do bar. Olho para a minha mesa preferida e está ocupada. Faço um ar de descontente. O Luis empregado do bar, meu conhecido há anos, oferece-me outra. Faço beicinho e digo que não, eu quero aquela. Sem saber o que dizer oferece-me uma cadeira junto ao bar. Aceito esperar ali, afinal não vão ficar lá a noite toda.
Sinto um perfume masculino delicioso. Caramba, não há de uma mulher ficar louca com estes aromas. Olho para o lado, interessante. Bem vestido e cheiroso. Ele sorri eu não. Não vá pensar que lhe estou a dar espaço.
- Que guapa! Diz ele. E eu penso, mau maria, oh espanholito deixa-te estar por aí que eu hoje não estou para aí virada.
- Queres bailar!
Ai ai, que este é dos matadores.
- Não obrigada.
- Eres portuguesa?
E insiste o desgraçado. Volto-me para ele e respondo em bom inglês! - I’m sorry, am not portuguese.
Esta costuma resultar sempre, não conheço um espanhol que goste ou saiba falar inglês correctamente.
- Oh am american!
E eu penso, shit que este vai ser difícil de descartar.
- Am sorry am not into you! Sou o mais directa possível. Traduzindo “ desculpa-me mas não tou na tua”. Aprendi isto na Oprah. E não é que resulta mesmo!
O gajo olha para mim e chama-me bitch. Eu olho para ele e chamo-lhe loser.
Entre bicth e loser, prefiro definitivamente bitch. As bitches são vencedoras. São as que dão que falar, pelos bons e maus motivos. E a frase mais conhecida entre as mulheres, é que as bitches ficam sempre com o melhor. Portanto o loser até tem razão.
Até que enfim vejo chegar o pessoal.
- Então chatearam-te muito!? Pergunta o Pedro a gozar.
- Não, só um "son of a bitch". Respondo a sorrir.
Começo a voar, nesta folha em branco. Ao certo, ainda eu, sou uma folha em branco, já vi uns rabiscos no canto superior direito da folha. Claro está, está certíssimo já tenho quase 30 anos, é bom que já apareça alguma coisa, um risco, uma ruga. Pois é pessoal, atiro-me aqui, completamente aos vossos pés. Um desejo antigo de escrever e de partilhar o que me vai nesta alma. Não farei promessas, logo veremos, o que o céu nos reserva. Não esta muito vento, portanto a descolagem vai ser suave.
quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Noctívagadas
sexta-feira, 17 de agosto de 2007
Encosta-te e tatua-me
Ai tiras-me do sério só de pensar no que estás a dizer. Arrepio-me toda, tal é a delícia das tuas palavras. É como se soprasses na minha pele nua.
Falas de um passado que sinto, ainda a palpitar nas veias. Tão recente, tão saboroso.
Encosta-te a mim e sussurra-me ao ouvido. Fala-me com paixão, fala-me de tudo o que queres fazer comigo. Ganha coragem e deixa-te levar, magoa-me se for preciso, quero ficar tatuada.
Abraça-me pela cintura e faz me esquecer. Esquecer tudo menos esta canção.
Sabe-me a mel, a beijos arrojados e a amor. Sabe-me muito bem.
Canta Jorge, canta e mata a sede que há em mim.
"Encosta-te a mim
Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar.
Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.
Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim."
Jorge Palma, in Voo Nocturno ( até doi ouvir esta música )
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
Fui encontrada e presente ao Juiz
- Sr. Dr. Juiz, venho apresentar a minha versão dos factos, para justificar o facto de ter estado perdida. Reconhecer perante o Tribunal que errei, mas que agi por ingenuidade.
- Sr.ª Doutora Laudy faça o favor de apresentar a vossa defesa.
- Amiga não te preocupes vai correr tudo bem! Diz-me a minha melhor amiga que achou por bem intervir em minha defesa.
- Sr Dr Juiz, a minha cliente agiu de boa fé, foi apanhada de surpresa, pelas estradas da vida. Ou seja com as calcinhas na mão.
- Ai amiga calcinhas na mão, amiga não digas isso. Digo eu embaraçada.
- Não te preocupes é apenas uma expressão. Pisca-me o olho e continua. - Como estava a dizer Sr. Dr. Juiz com as calcinhas na mão. Completamente desprevenida, foi sucessivamente deparada com verdadeiras agruras. E é mais que natural que não tendo tempo para pensar no assunto, tenha apenas resolvido fugir, a enfrentar a realidade. Andou perdida durante uns dias e pior chorou, chorou como nunca à tinha visto chorar. Sou testemunha desse facto e como prova, trago aqui os barris de cerveja sem a respectiva mas cheios de lágrimas.
- Sr. Dr. Juiz esta cena das lágrimas não devia entrar na defesa. Afirma o advogado da acusação.
- Sr. Advogado Facadas chorar faz bem. Responde o Juiz - Continue.
- Aparte do que já foi dito quero apenas acrescentar que esta fase já foi ultrapassada. A minha cliente esta consciente, de que nada pode fazer, o que será será! Aceitou o facto de que cada um tem o que merece ou melhor procura. Cedo a palavra a acusação.
- Sr. Dr. Juiz, a cliente da defesa afirma que foi apanhada desprevenida e vou citar "com as calcinhas na mão". É mais que sabido que estamos a falar de uma mulher, friso adulta. Uma senhora que sabe o quer, que luta e que acima de tudo é justa para consigo. Ora tendo sido apresentados estes factos. Afirmo que deve ser condenada, a vida continua. Não ficou a sua espera e muito menos tem de lhe dar satisfação, o passado é passado, o presente acontece e o futuro, todos nos sabemos é produto dos nossos actos, deve ser condenada, por agarrar-se a ideia, de que todos os finais têm de ser felizes.
- Contesto Sr. Dr. Juiz. Grita a Dr.ª Laudy – A minha cliente tem o direito de acreditar nos finais felizes, na felicidade e até no Pai Natal. Pecou por ingenuidade, infelizmente acontece.
- Feitas as exposições, devo antes de pronunciar a sentença, recomendar que dadas as circunstancias, que no futuro seja mais prudente, que não facilite e que acima de tudo que se proteja. Deixar o seu coração ser atacado dessa forma é mais que ingenuidade, é achar que a vida anda connosco nas palminhas da mão. Minha cara a vida dá-nos beijinhos, faz amor connosco, dá-nos palmadinhas nas costas e as vezes vai buscar-nos ao abismo. Mas toda a gente sabe que "Life is a bitch and you bether whatch out"*
Desta vez o tribunal confirma a sua inocência, mas não volte a repetir esta imprudência.
- Sim Sr. Dr. Juiz. Volto-me para a Laudy aliviada e suspiro. - Não volto mesmo a deixar isto acontecer.
- Vais continuar a acreditar em finais felizes. Pergunta-me ela já a sorrir certa da resposta.
- Sim vou! Até ao fim dos meus dias, vou acreditar que o bem vence o mal, que o amor vence o ódio, e que há sempre uma tampa para cada tacho. Podem não ser as tampas perfeitas mas ninguém o é. Ou serão uns mais que os outros!? Bem fico por aqui senão qualquer dia estou a ser julgada novamente.
*A vida é cabra, temos de estar de olho.
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Lost: tradução perdida
Existe algum lugar para onde eu possa ir, onde eu possa estar sem pensar em mais nada, onde possa literalmente parar o tempo? Onde possa deixar de ser eu, para ver tudo com mais clareza? Um lugar onde o tempo e a vida ficam suspensos. Alguém que me diga. Preciso urgentemente de uma resposta. Trata-se de uma questão de equilíbrio mental.
E sabem o quanto esta questão é importante. A do equilíbrio mental. Sabem aquela sensação de que tudo corre a nossa volta e nos continuamos parados só a observar, porque estamos demasiados dormentes para fazer acontecer. É deste desequilíbrio que falo. Deixamos que nós calem, que nos tapem os olhos, que nos roubem o ar. Estamos adormecidos.
Ultimamente sinto que fui assaltada, que alguém me roubou algo e ainda não descobri o quê.
Sinto que perdi a guerra, sem nunca ter entrado numa batalha.
Sinto que perdi e eu tenho mau perder, estou sempre a espera que a derrota, afinal não seja verdadeira, que o meu esforço no fim resultará em vitória.
Aceitar as derrotas é uma virtude, lamento mas essa não faz parte do meu cardápio.
Ingénua pode ser que sim, há muito que acredito em finais felizes. Recuso-me a aceitar historias mal resolvidas, assuntos por discutir, situações complicadas.
Acredito de verdade que todos merecemos ser felizes desde que sejamos puros de coração. E acredito que devemos aceitar as consequências das nossas escolhas desde sejam as que nós desejamos.
Não sei se o meu coração é puro, acho que há espaços com pó, acho que preciso de fazer a limpeza geral. Acima de tudo preciso de encontrar aquele lugar onde o tempo e a vida ficam suspensos e eu sei que deve ficar mesmo ali, ao lado da paragem coração. É a tal questão do equilíbrio mental. Preciso de fugir, esconder-me para depois, sei lá depois sei lá. Mas quem souber que me diga, eu preciso de encontrar o tal lugar. E é urgente!