quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Noctívagadas

Saio a noite, vesti-me como se fosse para uma festa. A vida é uma festa. Porque não celebra-la, penso eu.
Saio do carro, dou uma volta, miro o vestido que trago. Que delicia, sabe mesmo bem esta seda no corpo. Esta cá um calor, mas não faz mal, até sabe bem, o perfume fica mais intenso.
Chego e cumprimento o pessoal do bar. Olho para a minha mesa preferida e está ocupada. Faço um ar de descontente. O Luis empregado do bar, meu conhecido há anos, oferece-me outra. Faço beicinho e digo que não, eu quero aquela. Sem saber o que dizer oferece-me uma cadeira junto ao bar. Aceito esperar ali, afinal não vão ficar lá a noite toda.
Sinto um perfume masculino delicioso. Caramba, não há de uma mulher ficar louca com estes aromas. Olho para o lado, interessante. Bem vestido e cheiroso. Ele sorri eu não. Não vá pensar que lhe estou a dar espaço.
- Que guapa! Diz ele. E eu penso, mau maria, oh espanholito deixa-te estar por aí que eu hoje não estou para aí virada.
- Queres bailar!
Ai ai, que este é dos matadores.
- Não obrigada.
- Eres portuguesa?
E insiste o desgraçado. Volto-me para ele e respondo em bom inglês! - I’m sorry, am not portuguese.
Esta costuma resultar sempre, não conheço um espanhol que goste ou saiba falar inglês correctamente.
- Oh am american!
E eu penso, shit que este vai ser difícil de descartar.
- Am sorry am not into you! Sou o mais directa possível. Traduzindo “ desculpa-me mas não tou na tua”. Aprendi isto na Oprah. E não é que resulta mesmo!
O gajo olha para mim e chama-me bitch. Eu olho para ele e chamo-lhe loser.
Entre bicth e loser, prefiro definitivamente bitch. As bitches são vencedoras. São as que dão que falar, pelos bons e maus motivos. E a frase mais conhecida entre as mulheres, é que as bitches ficam sempre com o melhor. Portanto o loser até tem razão.
Até que enfim vejo chegar o pessoal.
- Então chatearam-te muito!? Pergunta o Pedro a gozar.
- Não, só um "son of a bitch". Respondo a sorrir.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Encosta-te e tatua-me

Encosta-te a mim, encosta-te e canta no meu ouvido. Sabe-me a mel as tuas palavras.
Ai tiras-me do sério só de pensar no que estás a dizer. Arrepio-me toda, tal é a delícia das tuas palavras. É como se soprasses na minha pele nua.
Falas de um passado que sinto, ainda a palpitar nas veias. Tão recente, tão saboroso.
Encosta-te a mim e sussurra-me ao ouvido. Fala-me com paixão, fala-me de tudo o que queres fazer comigo. Ganha coragem e deixa-te levar, magoa-me se for preciso, quero ficar tatuada.

Abraça-me pela cintura e faz me esquecer. Esquecer tudo menos esta canção.
Sabe-me a mel, a beijos arrojados e a amor. Sabe-me muito bem.

Canta Jorge, canta e mata a sede que há em mim.

"Encosta-te a mim
Encosta-te a mim, nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim, talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar.

Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.

Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi, estou a partilhar contigo
o que não vivi, um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim."


Jorge Palma, in Voo Nocturno ( até doi ouvir esta música )

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Fui encontrada e presente ao Juiz

- Apresente-se ao tribunal. E explique a sua queixa.
- Sr. Dr. Juiz, venho apresentar a minha versão dos factos, para justificar o facto de ter estado perdida. Reconhecer perante o Tribunal que errei, mas que agi por ingenuidade.
- Sr.ª Doutora Laudy faça o favor de apresentar a vossa defesa.
- Amiga não te preocupes vai correr tudo bem! Diz-me a minha melhor amiga que achou por bem intervir em minha defesa.
- Sr Dr Juiz, a minha cliente agiu de boa fé, foi apanhada de surpresa, pelas estradas da vida. Ou seja com as calcinhas na mão.
- Ai amiga calcinhas na mão, amiga não digas isso. Digo eu embaraçada.
- Não te preocupes é apenas uma expressão. Pisca-me o olho e continua. - Como estava a dizer Sr. Dr. Juiz com as calcinhas na mão. Completamente desprevenida, foi sucessivamente deparada com verdadeiras agruras. E é mais que natural que não tendo tempo para pensar no assunto, tenha apenas resolvido fugir, a enfrentar a realidade. Andou perdida durante uns dias e pior chorou, chorou como nunca à tinha visto chorar. Sou testemunha desse facto e como prova, trago aqui os barris de cerveja sem a respectiva mas cheios de lágrimas.
- Sr. Dr. Juiz esta cena das lágrimas não devia entrar na defesa. Afirma o advogado da acusação.
- Sr. Advogado Facadas chorar faz bem. Responde o Juiz - Continue.
- Aparte do que já foi dito quero apenas acrescentar que esta fase já foi ultrapassada. A minha cliente esta consciente, de que nada pode fazer, o que será será! Aceitou o facto de que cada um tem o que merece ou melhor procura. Cedo a palavra a acusação.
- Sr. Dr. Juiz, a cliente da defesa afirma que foi apanhada desprevenida e vou citar "com as calcinhas na mão". É mais que sabido que estamos a falar de uma mulher, friso adulta. Uma senhora que sabe o quer, que luta e que acima de tudo é justa para consigo. Ora tendo sido apresentados estes factos. Afirmo que deve ser condenada, a vida continua. Não ficou a sua espera e muito menos tem de lhe dar satisfação, o passado é passado, o presente acontece e o futuro, todos nos sabemos é produto dos nossos actos, deve ser condenada, por agarrar-se a ideia, de que todos os finais têm de ser felizes.
- Contesto Sr. Dr. Juiz. Grita a Dr.ª Laudy – A minha cliente tem o direito de acreditar nos finais felizes, na felicidade e até no Pai Natal. Pecou por ingenuidade, infelizmente acontece.
- Feitas as exposições, devo antes de pronunciar a sentença, recomendar que dadas as circunstancias, que no futuro seja mais prudente, que não facilite e que acima de tudo que se proteja. Deixar o seu coração ser atacado dessa forma é mais que ingenuidade, é achar que a vida anda connosco nas palminhas da mão. Minha cara a vida dá-nos beijinhos, faz amor connosco, dá-nos palmadinhas nas costas e as vezes vai buscar-nos ao abismo. Mas toda a gente sabe que "Life is a bitch and you bether whatch out"*
Desta vez o tribunal confirma a sua inocência, mas não volte a repetir esta imprudência.
- Sim Sr. Dr. Juiz. Volto-me para a Laudy aliviada e suspiro. - Não volto mesmo a deixar isto acontecer.
- Vais continuar a acreditar em finais felizes. Pergunta-me ela já a sorrir certa da resposta.
- Sim vou! Até ao fim dos meus dias, vou acreditar que o bem vence o mal, que o amor vence o ódio, e que há sempre uma tampa para cada tacho. Podem não ser as tampas perfeitas mas ninguém o é. Ou serão uns mais que os outros!? Bem fico por aqui senão qualquer dia estou a ser julgada novamente.


*A vida é cabra, temos de estar de olho.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Lost: tradução perdida


Existe algum lugar para onde eu possa ir, onde eu possa estar sem pensar em mais nada, onde possa literalmente parar o tempo? Onde possa deixar de ser eu, para ver tudo com mais clareza? Um lugar onde o tempo e a vida ficam suspensos. Alguém que me diga. Preciso urgentemente de uma resposta. Trata-se de uma questão de equilíbrio mental.


E sabem o quanto esta questão é importante. A do equilíbrio mental. Sabem aquela sensação de que tudo corre a nossa volta e nos continuamos parados só a observar, porque estamos demasiados dormentes para fazer acontecer. É deste desequilíbrio que falo. Deixamos que nós calem, que nos tapem os olhos, que nos roubem o ar. Estamos adormecidos.
Ultimamente sinto que fui assaltada, que alguém me roubou algo e ainda não descobri o quê.
Sinto que perdi a guerra, sem nunca ter entrado numa batalha.
Sinto que perdi e eu tenho mau perder, estou sempre a espera que a derrota, afinal não seja verdadeira, que o meu esforço no fim resultará em vitória.
Aceitar as derrotas é uma virtude, lamento mas essa não faz parte do meu cardápio.
Ingénua pode ser que sim, há muito que acredito em finais felizes. Recuso-me a aceitar historias mal resolvidas, assuntos por discutir, situações complicadas.
Acredito de verdade que todos merecemos ser felizes desde que sejamos puros de coração. E acredito que devemos aceitar as consequências das nossas escolhas desde sejam as que nós desejamos.
Não sei se o meu coração é puro, acho que há espaços com pó, acho que preciso de fazer a limpeza geral. Acima de tudo preciso de encontrar aquele lugar onde o tempo e a vida ficam suspensos e eu sei que deve ficar mesmo ali, ao lado da paragem coração. É a tal questão do equilíbrio mental. Preciso de fugir, esconder-me para depois, sei lá depois sei lá. Mas quem souber que me diga, eu preciso de encontrar o tal lugar. E é urgente!